terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Quando a antítese torna-se paradoxo!

Qualquer boa gramática dirá que antítese é “a contraposição de uma palavra ou frase a outra de significação oposta” (Rocha Lima. Gramática Normativa da Língua Portuguesa), ou seja, é a oposição de palavras, como, por exemplo, novo/velho, bem/mal, cheio/vazio. Agora, será que uma antítese pode se tornar um paradoxo? Mas o que é paradoxo?



Provavelmente você, caríssimo leitor, já leu o famoso soneto de Luís de Camões. Se não, então vamos a ele!
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Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
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É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
*
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Lindo, não? Realmente este soneto é lindíssimo, como diria José Dias! Mas o que significa paradoxo? Em linhas gerais é a oposição de idéias, porém uma oposição mais violenta, pois as idéias “contrárias” se mostram unidas, fundidas revelando uma relação incompatível, impossível de existir. E Camões soube materializar perfeitamente uma série de paradoxo a respeito do amor, que muitos de nós já sentimos ou pensamos. Com certeza, não há paradoxo mais certo do que dizer que o “Amor é um fogo que arde sem se ver” ou que “é dor que desatina sem doer”.

*

Agora qual é a relação entre antítese e paradoxo? Será que uma antítese realmente pode se tornar paradoxo? Pergunta o leitor angustiado de curiosidade. E a resposta é sim! Uma antítese pode se transformar em paradoxo. Na realidade, sou testemunha de tal transformação e só a notei há exatos 15 dias.

Como todo final de ano, a coisa que mais desejo é sair de férias, descansar e recuperar as forças para o ano seguinte. Porém, antes do fim, percebi que determinadas coisas, por mais que terminem, só existem plenamente quando estão presentes. Em outras palavras, por mais que eu queira o vazio, é no cheio que existo e me realizo! Como se a minha existência só se revelasse na antítese... Não! Não existo na antítese! Pelo contrário, eu só existo plenamente no constante desejo do paradoxo!



Por mais que anseie sair de férias, confesso que espero feliz o começo do ano. Mas logo no primeiro dia, pergunto quando será as férias! E assim se segue! Entretanto, no último dia de aula, ao contrário de outros últimos dias de aulas, reparei que ao mesmo tempo em que pedia o fim, queria o inicio. Pensava no vazio, pedia... uma sala cheia de alunos que aprendi a gostar, e com o decorrer do tempo, passei a amar! Admito, contudo, que apesar da saudade que sinto agora e que sentirei, sempre; – pois saudade só existe na ausência daqueles que amamos – não sinto tristeza. Sinto felicidade!

Um paradoxo, não? Porém, é em meio a essa violenta oposição de idéias que descobri que o fim marca o começo. O começo de novos desafios, novos projetos, novos sonhos, novos olhares. É no fim de uma etapa, que encontramos o produto pronto! É no fim de uma corrida, que encontramos as glórias e prêmios! E é sempre no fim de um percurso, que olhamos para trás e vemos que tudo valeu à pena! E quando olho para trás, como estou fazendo agora, vejo sorrisos felizes, ansiosos e prontos para conquistar o mundo!


Um comentário:

BIOLOGIA disse...

muito bom !!!

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