domingo, 28 de outubro de 2018

E agora?

Primeiro o choro, o desespero. O que esperar do futuro que parece tão nebuloso?De repente, porém, a raiva vem. Palavrões vêm aos montes! Aliviam um pouco. Então o choro ressurge... e a leitura da adolescência de “Não verás país nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão, reaparece... tão forte... um desespero tão assustador se faz presente!

Eu li esse livro no início do meu colégio, hoje ensino médio. Indicação da professora de língua portuguesa e literatura. Foi uma leitura impactante. Eu fiquei atordoada! Será que aquele futuro ali narrado pode acontecer com o Brasil algum dia?

Desde o ano passado, ou um pouco antes, não sei bem, a leitura deste romance me assusta. Ou, melhorando o discurso, me vem a mente. Para quem nunca o leu, um pequeno resumo retirado do site da Livraria Cultura.  

Romance apocalíptico, no sentido de contar uma história do fim dos tempos, “Não Verás País Nenhum” se desenrola em um futuro não determinado - Uma época terrível, na qual a Amazônia se transformou em um deserto sem nenhuma árvore; onde “O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne em poucas horas”; onde a carência de água impõe a reciclagem da urina, bebida pelas pessoas. A administração do país chegou ao caos. Governantes medíocres, cada vez mais afastados do povo, interessados apenas em vantagens pessoais, uma polícia corrupta e assustadora. No meio desse mundo sombrio, uma história de amor, na qual o autor sugere que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto o bicho-homem alimentar esperanças e for capaz de gestos de generosidade.

Claro que o resumo não dá conta do livro, mas já dá uma ideia do que ele é. E este livro do Ignácio é extremamente atual, ainda que tenha sido escrito na década de 1980.

As lágrimas já diminuíram, mas às vezes elas voltam. Assim como a raiva. Dizem que o luto tem fases. Passei pela surpresa e questionamento – como isto aconteceu? –, depois passei pelo choro – um pouco contido – e depois pela raiva – misturada a um humor leve, porém presente.

Não sei como vou estar amanhã. Sei que preciso encontrar forças, é preciso ser resistência... é preciso lutar pela democracia. No entanto, agora, só sinto medo. Muito medo de que a ficção se torne realidade.

Lembrei-me de uma cena de um filme: “E o vento levou”. A certa altura, a personagem principal – Scarlet O’hara – diz: “Amanhã! Amanhã será outro dia!”. Sim. Amanhã será outro dia e mesmo que hoje a esperança não vigore, ela surge, lentamente, tão qual a flor que nasceu no meio da rua!

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Vazio

Após o incêndio, não resta nada. Não sobrou nada. Não há mais nada. A História e as histórias que o Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, guardava viraram cinzas.




A imagem do Museu sem teto é desoladora. Triste! As paredes e as estaturas que resistiram ao fogo testemunham agora o vazio. Um vazio que dificilmente será ocupado, uma vez que o acerto era único...


Luzia foi encontrada em Lagoa Santa, Minas Gerais em 1974. 


Luzia, o esqueleto mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade, era uma jovem mulher que morreu entre 20 e 25 anos. Não sei dizer do que ela morreu, (preciso pesquisar), mas ela morreu de novo no domingo, dia 02 de setembro de 2018. E diferente da primeira vez, ela não vai voltar. Sua história, gravada em seus ossos, desapareceu. Assim como as demais histórias que o Museu Nacional guardava e pesquisava.

O incêndio apagou definitivamente (como gostaria de estar errada!) 200 anos de História e de histórias. De narrativas e de memória. De estudos e de pesquisas.

Estou atordoada com isso! Eu também sou pesquisadora. Tenho mestrado em Letras e choro ao pensar que a História que habitava o Museu Nacional da UFRJ e a história que os alunos de pós-graduação construíam ali se perdeu.

Então me lembro do mito da Fênix, ave mitológica que renascia das cinzas. História mais do que apropriada, não? E torço para que isso aconteça (ainda não perdi as esperanças) e que cada aluna e aluno, assim como as professoras e os professores renasçam das cinzas. E sei que elas e eles vão conseguir!

No entanto, sinto, mesmo não querendo sentir, que diante da situação política, social e econômica do país, o renascer será dolorido. Ainda que tenha esperanças de que este crime absurdo provoque algo (tem que ter causado algo), tenho medo que passado o impacto desse horror, a única coisa que nos reste sejam as paredes e as estatuas de um museu vazio de vida e de História!


Dedico este texto às alunas e aos alunos, às professoras e aos professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Espaço para uma crônica

  A noite do barulho   Era 1h50 da manhã de sexta-feira quando fui dormir. Um pouco tarde, eu sei, mas o sono tem se atrasado ultimament...