Finalmente, felizmente, francamente, o meu trabalho de conclusão de curso está surgindo! Palavra por palavra. Frase por frase. Uma a uma, o ensaio ganha vida, consistência, forma! Mas confesso que é uma luta dura. Parece que as palavras não querem ir para o papel!
Isso me faz lembrar um poema de Drummond, em que ele diz ter dentro dele um verso que “não quer sair”. Vamos ao texto:
“Poesia”*
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Assim com o poeta mineiro, também tenho dentro de mim um verso. Um não. Vários versos, inquietos e vivos, porém, eles não querem sair. E provavelmente gastei mais de uma hora para notar isso. E estou ficando nervosa, pois tenho que escrever!!!!!
Mas farei como Carlos Drummond: vou deixar a poesia inundar a minha vida inteira. Não só a vida, o papel também, como uma Aurora!
"Aurora", Carlos Drummond de Andrade*
O poeta ia bêbedo no bonde.
O dia nascia atrás dos quintais.
As pensões alegres dormiam tristíssimas.
As casas também iam bêbedas.
Tudo era irreparável.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Últimos pensamentos! últimos telegramas!
José, que colocava pronomes,
Helena, que amava os homens,
Sebastião, que se arruinava,
Artur, que não dizia nada,
embarcam para a eternidade.
O poeta está bêbedo, mas
escuta um apelo na aurora:
Vamos todos dançar
entre o bonde e a árvore?
Entre o bonde e a árvore
dançai, meus irmãos!
Embora sem música
dançai, meus irmãos!
Os filhos estão nascendo
com tamanha espontaneidade.
Como é maravilhoso o amor
(o amor e outros produtos).
Dançai, meus irmãos!
A morte virá depois
como um sacramento.
Um comentário:
A palavra é ponte. E por elas, muitas passagens, porque muitos os caminhos. Literatura é ponte. Poesia é ponte. E porque há muitas pontes, muitos caminhos, há muitos encontros. Encontrei o seu blog, e com ele, referências comuns, mesma paixão acalentada pelo mundo das letras, e tudo que elas propiciam. Passagens, caminhos, Drummonds. Drummond desfaz a minha necessidade repetir: poesia. Ela "inunda a minha vida inteira", quando leio/releio o poeta de Itabira. Sintetiza, como tantos outros poetas e escritores, essa convergência maior. Volto depois com certeza, gostei do blog! Um abraço, e boa sorte com o trabalho! :)
Roberta, do blog www.sedeemfrenteaomar.blogger.com.br
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