sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Angelo Agostini e a História em Quadrinho no Brasil

Italiano de nascimento, mas brasileiro por escolha, Angelo Agostini (08/04/1843, Vercelli/Itália, 23/01/1910, Rio de Janeiro) é o principal nome quando se investiga a origem das Histórias em Quadrinhos no Brasil

Artista gráfico, pintor e critico de arte, Agostini trabalhou com os quadrinhos e com as caricaturas, que tinham como alvo os políticos do Segundo Império e da futura República.

O ano é 1869, mais precisamente, 30 de janeiro, data em que se comemora o dia Nacional da História em Quadrinho; nesse dia, vem ao mundo, pela pena de Angelo Agostini, nosso legitimo personagem nacional: Nhô-Quim, um caipira que vive inúmeras aventuras cômicas na capital do Império.

Publicada na revista Vida Fluminense, essas histórias não apresentavam os famosos balões de diálogos e o texto narrativo era bastante simples e convencional. Porém, Agostini tinha um traço elegante, “utilizava técnicas que só seriam exploradas plenamente pelos quadrinhos décadas depois, destacando-se a diagramação e a perspectiva, que davam um toque menos caricato e mais realista aos desenhos, que reproduziam a aparência e os costumes de uma época”, como relata o site Revista Crazymann.



Vale lembrar ainda que além do Nhô-Quim, o artista ítalo-brasileiro criou também Zé Caipora e a primeira heroína, a índia Inaiá, que viviam inúmeras aventuras na revista Revista Illustrada, de 1876 a 1891. Agostini publicou também nas revistas O Arlequim, O Mosquito suas caricaturas, suas ilustrações e, principalmente, suas ideias abolicionistas e republicanas, sempre com humor e critica.

Num Brasil em profunda transformação política, econômica e social, repleto de lutas pela abolição dos escravos e pela proclamação da República, Ângelo Agostini produziu uma arte que se recusava a ficar parada, estática. Avançando no tempo e no espaço, o artista criou uma narrativa sequencial com cortes gráficos que futuramente apareceriam nas histórias em quadrinhos.

O mesmo pode-se dizer de suas caricaturas, pois elas não foram apenas um retrato de uma época, mas um olhar critico de uma sociedade que crescia em todos os sentidos. Ou seja, o pai de Nhô Quim e de Zé Caipora, nos deixou como legado aventuras e caricaturas que revelam um tempo histórico significativo, de um país que se tornará Nação, porém, com fortes desejos de ser uma República.




Para Herman Lima, estudioso da obra de Angelo Agostini, o artista tem grande valor. Segundo Lima, “durante quarenta e seis anos, de 1840 a 1910, esse formidável polemista do lápis, sem descanso nem folga, [...], sempre se afirmou como irreverente fustigador de homens e de costumes, em milhares de charges, na época em coisa alguma inferior às melhores dos seus contemporâneos europeus” (Cirne, 1990, p. 16-7). 

Isso significa que esse ítalo-brasileiro foi um crítico feroz, que usou a pena como arma para instigar e mostrar à sociedade seus problemas e falhas, contudo, fez de belíssima e inovadora forma.

Essa inovação se faz presente especialmente nos quadrinhos. Ao publicar as aventuras de Nhô Quim e de Zé Caipora, Agostini traz os principais elementos visuais da narrativa quadrinizada, mas incomuns para o século XIX.

Waldomiro Vergueirodo Núcleo de Pesquisa de História em Quadrinhos da USP, comenta que ele usava “recursos metalinguísticos ou de enquadramentos inovadores para a época (entre estes últimos pode-se destacar, já no primeiro capítulo, uma sucessão de vários quadrinhos utilizando um mesmo cenário de fundo, uma técnica que apenas muito tempo depois foi explorada pelas histórias em quadrinhos)”.

Isso mostra que Angelo Agostini foi, sem sombra de dúvida, o principio dos nossos quadrinhos. E também um artista que por meio das hq, muito antes delas existirem como as conhecemos; revelou um país repleto de divisões sociais, econômicas e políticas, que começava a caminhar pelas próprias pernas, apesar delas serem, ainda, bastante frágeis.






Bibliografia

CIRNE, Moacy. História e critica dos quadrinhos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Europa: FUNARTE, 1990.

FEIJÓ, Mário. Quadrinhos em ação: um século de história. São Paulo: Moderna, 1997.


As imagens de Angelo Agostini e de seus desenhos foram tiradas do site Universo HQ e Veja.

Um comentário:

Walter Jr. Nuno disse...

Uma postagem de extrema relevância.
mandou muito bem Cláudia. Muito da história do Angelo eu desconhecia.
bjussssss

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