Hoje é 31 de outubro. Dia das bruxas. Mas prefiro o Dia do Saci, comemorado hoje também. Porém, neste dia frio e nublado de outubro também se comemora o aniversário de um poeta: Carlos Drummond de Andrade!
E nada melhor que ler as poesias de Drummond neste Dia D! E visitar o site Dia Drummond, organizado Instituto Moreira Sales, que desde 2011 celebra o poeta mineiro.
Imagem do site
Provavelmente já citei esse site aqui, mas coisas boas devem ser repetidas! Sempre!
E para terminar esta postagem, um dos meus poemas prediletos: "José"
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Nenhum comentário:
Postar um comentário