Hoje é dia da poesia! Hoje é dia da palavra que cria novas imagens, novos sons e novas palavras!
Hoje eu quero uma poesia! Apenas uma poesia! Repleta de sons, de imagens e, principalmente, de palavras!
Hoje eu quero a poesia de Manoel de Barros, que tira e cria a sua poesia da simplicidades das coisas que se espalham pelo chão e pela mente! E que hoje alimentam o meu desejo, incontrolável, de ter e ler POESIA.
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS, Manoel de Barros*
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS, Manoel de Barros*
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não
gosto das palavras
fatigadas
de informar.
Dou
mais respeito
às
que vivem de barriga no chão
tipo
água pedra sapo.
Entendo
bem o sotaque das águas.
dou
respeito às coisas desimportantes
e
aos seres desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo
a velocidade
das
tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho
em mim esse atraso de nascença.
Eu
fui aparelhado
para
gostar de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu
quintal é maior do que o mundo.
Sou
um apanhador de desperdícios:
Amo
os restos
como
as boas moscas.
Queria
que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque
eu não sou da informática:
eu
sou da invencionática.
Só
uso a palavra para compor os meus silêncios.
*In: Memória inventada: infância. São Paulo: Planeta da Terra, 2003.
*In: Memória inventada: infância. São Paulo: Planeta da Terra, 2003.
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