Um passeio quase perfeito
Sol.
Céu azul.
Um dia perfeito.
Um dia perfeito para andar de carro, de carro novo. Neste
caso, um Mercedes-Benz SL conversível branca, que vai de zero a 100 em 3,9
segundos. Seiscentos e trinta cavalos de potência!!! É velocidade pura! Palavras
do meu pai. E como um bom motorista que é (e feliz da vida com o carro novo), ele
me convidou para dar uma volta numa autoestrada próxima, aqui na Alemanha.
E lá fomos nós. Estrear o conversível do papai.
Armada de óculos de sol, chapéu e felicidade, além do
protetor solar e do senso de aventura, entrei no carro disposta a curtir o
passeio e relaxar.
Sentei-me no banco do passageiro, coloquei o cinto de
segurança e os pés no painel (para desespero do meu pai) e esperei a velocidade
aumentar para aliviar o calor. De olhos fechados, prestava atenção no barulho
do motor. Ainda que ele não existisse realmente. É super-rápido e silencioso, disse
meu pai.
E uma coisa é certa: que carro maravilhoso. É impossível não
se sentir voando, flutuando... A sensação é de liberdade. De frescor. De
felicidade. De umidade?
Chuva? Sim! Era chuva. A meteorologia tinha avisado que
teríamos chuvas esparsas por causa do calor. E, no verão, nada melhor que uma
chuvinha para refrescar o calor quase infernal. Mas havia algo de podre nessa chuva.
Mais do que podre, o cheiro lembrava...
MERDA!!! Gritou meu pai.
Sentindo um aroma digno de banheiro de beira de estrada,
tirei os óculos, abri os olhos e lá estava ela: a merda. Da pior forma possível.
Líquida, pegajosa, fedorenta.
Antes de entrarmos na autoestrada, e muito antes de sairmos
da garagem de casa, o cano de esgoto do vizinho explodiu nos atingindo igual a
uma mosca na parede: em cheio. E numa velocidade...
Enfim, o que era para ser um dia perfeito, tornou-se um
perfeito fedor, que durou vários dias de banhos, perfumes, banhos e mais
perfumes. Quanto à Mercedes-Benz nova do papai, depois de inúmeros banhos e
perfumes (mais fortes que o Chanel nº 5), ele preferiu trocá-la. Em vez de
conversível branco reluzente de antes, agora temos um Mercedes prata também
reluzente, mas sem a capota reversível. A imagem do conversível transbordando
merda ainda causa muita dor ao meu pobre pai.
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