“Que Manuel me perdoe, mas... Vou-me
embora de Pasárgada!” Millôr Fernandes
Vou-me
embora de Pasárgada
Sou
inimigo do rei
Não
tenho nada que eu quero
Não
tenho e nunca terei
Vou-me
embora de Pasárgada
Aqui
eu não sou feliz
A
existência é tão dura
As
elites tão senis
Que
Joana, a louca da Espanha
Ainda
é mais coerente
Do
que os donos do país.
A
gente só faz ginástica
Nos
velhos trens da central
Se
quer comer todo dia
A
polícia baixa o pau
E
como já estou cansado
Sem
esperança num país
Em
que tudo nos revolta
Já
comprei ida sem volta
Pra
outro qualquer lugar
Aqui
não quero ficar,
Vou-me
embora de Pasárgada.
Pasárgada
já não tem nada
Nem
mesmo recordação
Nem
a fome e doença
Impedem
a concepção
Telefone
não telefona
A
droga é falsificada
E
prostitutas aidéticas
Se
fingem de namoradas
E
se hoje acordei alegre
Não
pensem que eu vou ficar
Nosso
presente já era
Nosso
passado se foi.
Dou
boiada pra ir embora
Pra
ficar só dou um boi
Sou
inimigo do rei
Não
tenho nada na vida
Não
tenho e nunca terei
Vou-me
embora de Pasárgada.
fonte: Millôr Online