"Com licença poética", Adélia Prado*
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
*Releituras
5 comentários:
Eu amo, idolatro esse poema. Somos todas desdobráveis, alucinadas e ciclicas...
Aninha!
Esse poema é maravilhoso! Eu também o amo, pois ele simplesmente nos descreve!
beijos!
Adoro Adélia Prado...
especialmente esta frase:
"Não quero faca, nem queijo. Quero a fome"
Beijos...
Foi conferido a você o selo A&C!!
Beijos e vai buscar viu...
Regra:Não pode repassar...
#Amotú...Dans!!!
Claudinha pega o teu selo aqui nesse link : http://sandra-cajado.blogspot.com/2010/03/selo-arte-cultura.html
Beijos.
oi Sandra!
Eu adoro o último verso: "Mulher é desdobrável. Eu sou." Lindo, não?
Beijos e obrigada pela visita!
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